3.22.2009

Para Além De... Editora...

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Para Além De... Editora...

...Promotora De Atitudes Culturais...



Por amor à arte poética:
Cosmorama, projecto de atitudes culturais, é a única editora portuguesa que só publica poesia.
Nunca se publicou tanta poesia como hoje - das colecções específicas às infindáveis edições de autor -, mas há apenas uma editora portuguesa dedicada em exclusivo a este género. O Dia Mundial da Poesia é hoje assinalado em todo o país.
Se criar uma editora na presente conjuntura económica está longe de ser uma fórmula simples de obter retorno financeiro seguro, mais arrojado ainda se torna o projecto quando a poesia é o género de eleição. Quando, há pouco mais de um ano, José Rui Teixeira, Jorge Melícias e João Manuel Ribeiro, todos eles poetas, concretizaram a ambição de longa data, sabiam que a tarefa não seria exactamente fácil.
Volvido esse período, não é preciso ter dotes de prestidigitação para concluir que a editora "sobrevive com algumas dificuldades", como reconhece José Rui Teixeira, pois, embora a Cosmorama actue num nicho de mercado específico, essa limitação "
circunscreve a margem de crescimento do projecto".
Além disso, a poesia não só é um género com escassa procura nas livrarias - "vender 500 exemplares em meio ano já é um êxito", diz o editor -, como as editoras são ainda confrontadas com "o incumprimento das condições de pagamento das facturas por parte das livrarias e distribuidoras".
Os lamentos, porém, não interferem com o balanço positivo. Basta dizer que, nesse período, a editora logrou publicar livros de Agustina Bessa-Luís _ a novela "Dominga", o único título fora do género poético _, Teixeira de Pascoaes, Valter Hugo Mãe, Amadeu Baptista ou Pedro Gil-Pedro e, até final do ano, avizinha-se a edição de poemas de António Pedro, Jorge Melícias e António Cabrita.
José Rui Teixeira vê com agrado essa confiança por parte de autores de prestígio, o que vem reforçar a ambição de fazer da Cosmorama "um projecto com qualidade e uma referência na edição de poesia em Portugal".
A par dos consagrados, a editora faz questão de apostar em novos valores, casos de Andreia C. Faria ("De haver relento) ou Catarina Costa ("Marcas de urze"), escolhidos a partir dos vários originais que semanalmente vão chegando à sede, no Porto, ou através do blogue (cosmorama-edicoes.blogspot.com).
Para contornar as dificuldades, os mentores do projecto têm insistido em iniciativas de fidelização dos leitores. A mais notória é o cartão "Leitor +". Por 80 euros, é possível receber por correio todos os livros do plano anual de edições antes mesmo da distribuição para as livrarias, assim como a revista literária "Cosmorama" e um desconto de 20% em todos as iniciativas promovidas pela associação cultural de que a editora faz parte.
O poeta e editor vê nesta medida "uma estratégia que permite uma relação de maior proximidade entre poetas, editores e leitores de poesia", mesmo tendo noção de que "não garante, por si só, a sobrevivência".

A publicação é apenas uma das facetas da Cosmorama. Da actividade regular fazem parte igualmente encontros com poetas, organização de apresentações e a respectiva divulgação, um sintoma óbvio do dinamismo que caracteriza o actual género poético, pródigo em iniciativas várias.
José Rui Teixeira explica o paradoxo entre as edições quase secretas e o frenesim de actividades públicas, das tertúlias aos colectivos de poesia, com o facto de "serem eventos que normalmente mobilizam as mesmas poucas pessoas". E alude à fácil autolegitimação para explicar o surto de (candidatos a) poetas: "Alguém que sabe uns acordes na guitarra não diz que é músico. Porém, alguém que verseja, independentemente da qualidade dos versos, já se considera poeta. Existe o lugar-comum que afirma que Portugal é um país de poetas. Trata-se de uma generalização precipitada". (Sérgio Almeida/JNonline)


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