Dia Internacional do Animal
Os cães e os gatos salvaram-na. Quando "Silvesta" entrou lá em casa, acabaram as tromboses e depressões que consumiam Fernanda Dias, uma viúva na terceira idade que actualmente passa a maioria do tempo fora de portas. "Sinto-me melhor de saúde desde que me dedico aos animais. Nos primeiros dez anos que fiquei viúva estive muito mal", lembra nos seus 69 anos, enumerando as tromboses, dores musculares e depressões que a solidão lhe causou. Fernanda diz que acorda todos os dias motivada pela sua "missão" para com os animais. Cuida dos seus, dos de amigos que trabalham todo o dia, dos abandonados nas ruas e ainda de um que o dono foi forçado a deixar em casa quando teve de ir para um lar de idosos. "Quase não paro em casa. A minha vida é um corrupio. Acordo às sete, caminho várias horas por dia para passear os bichos, volto a sair depois do almoço e só volto a casa lá para as oito da noite", conta. "Os animais representam uma fonte inesgotável de afecto, mobilidade e saúde. Movimentam-se mas não falam, logo obrigam-nos a entendê-los, estimulando a nossa audição ou o tacto e também a memória dos sentidos", afirma a geriontologista Maria João Quintela. Procurar o gato que está atrás do sofá, baixar-se para dar o alimento, passear o cão na rua ou levá-lo ao veterinário são pequenos gestos que podem ser estimulantes para quem sente o corpo cansado e pouca motivação para a vida. Maria João Quintela explica que a memória, que se vai perdendo com o passar dos anos, pode ser reavivada pela simples obrigação da lembrança das horas de dar comida ao cão, do recordar com um amigo das façanhas do gato. "Os animais são um agente estimulante da atenção", defende a médica, criticando o facto de a maioria dos lares de idosos portugueses não estar preparados para receber os animais de estimação ou permitir a sua visita esporádica aos donos. "Ir para uma instituição implica separar-se de tudo: dos vizinhos e tarecos até à roupa, e ainda em alguns casos dos animais de estimação. A entrada num lar é como um deserto que os idosos atravessam, numa altura em que estão frágeis", conta a geriontologista. Depois da mudança que os animais trouxeram à sua vida, Fernanda Dias não hesita em dizer que todos os lares deviam ter um animal para ajudar os idosos a viver e lembra a dor de um amigo que deixou ao seu cuidado o animal de estimação que teve de abandonar quando foi para o lar. "Vou lá todos os dias a casa e dou-lhe de comer. O cão ficou lá sozinho. É certo que tem um quintal onde está todo o dia, mas precisa de passear e de alguma companhia", conta.