...e Das Idades...
No âmbito dos 120 anos do nascimento do escritor
"O próprio Pessoa escreveu alguns poemas às suas sobrinhas, um destinatário infantil, mas há outros poemas seus, simples e compreensíveis pelos mais novos, com uma estrutura lírico-dramático", explicou José António Gomes. O investigador salientou as ilustrações e o design de António Modesto, "marcados por um estilo que lembra aqui e ali as vanguardas históricas do princípio do século XX, o período de actividade de Pessoa". "Há referências a Amadeo de Souza-Cardoso e ao cubismo", acrescentou. A antologia inclui, entre outros, "Poema pial", "Ó sino da minha aldeia", "A fada das crianças" e "Liberdade", num total de 27 poemas, na sua maioria de autoria de Fernando Pessoa, mas incluindo dois heterónimos. De Ricardo Reis escolheu a ode "Para ser grande sê inteiro" e de Álvaro de Campos "Todas as cartas de amor são ridículas".
Segundo José António Gomes, professor na Escola Superior de Educação do Porto, "Fernando Pessoa é dos poetas mais conhecidos e lidos", mas pode-se ainda "aproximá-lo dos mais novos, logo na escola primária e no 2º ciclo". Ilustrador e o antologista estarão na próxima quinta-feira, 13 de Junho, dia do aniversário de Fernando Pessoa, na Feira do Livro de Lisboa, a cidade onde nasceu. O livro integra a colecção "Oficina dos Sonhos", um projecto da Porto Editora que visa "reunir clássicos da literatura infantil e juvenil, obras contemporâneas de grandes autores e ilustradores portugueses ou estrangeiros, e álbuns para os mais pequenos", segundo fonte editorial. Inúmeras iniciativas assinalam efeméride. Um ciclo de conferências, uma exposição, um concerto e uma peça de teatro são algumas das iniciativas com que a Casa Fernando Pessoa vai assinalar os 120 anos do nascimento do poeta, a 13 de Junho de 1888. O Terreiro do Paço acolhe o espectáculo "Hip Hop Pessoa", uma iniciativa da CFP, da Câmara Municipal de Lisboa e da editora discográfica Loop:Recordings que reúne escritos do poeta e alguns dos mais conhecidos nomes do movimento Hip Hop nacional, como Melo D, Maze e Fuse, dos Dealema, Raptor, Rocky Marsiano, Rodrigo Amado, Sagas, Dj Ride, T-One, D-Fine e Viriato Ventura, pai de Sam The Kid. A animação no Terreiro Paço começa às 18h00, com os Djs da Loop Rui Miguel Abreu, José Belo, D-Mars, e DJ Ride e com Nomen, um dos mais reputados artistas de graffiti portugueses, a pintar painéis alusivos à iconografia pessoana, e o concerto começará às 22h00. Em Setembro, será editado um CD de homenagem a Fernando Pessoa com a participação destes e de outros artistas - que estará parcialmente disponível para download gratuito no portal LX Jovem, da Câmara de Lisboa, financiadora do álbum - acompanhado de um DVD com entrevistas a todos os envolvidos no projecto e da gravação do concerto de 13 de Junho. Uma peça de teatro baseada no único texto escrito por Pessoa no feminino, "A Carta da Corcunda para o Serralheiro", será apresentada na Casa Fernando Pessoa em três noites consecutivas - 18, 19 e 20 de Junho, pelas 21h30, com entrada livre - com interpretação da actriz Ângela Pinto e encenação de Hélder Gamboa. Esse texto, assinado por Maria José, e uma resposta a ele da autoria de Inês Pedrosa, intitulada "A Carta do Serralheiro para a Corcunda", estão publicados num número especial da revista Egoísta dedicado ao poeta, que reúne contributos de escritores como Antonio Tabucchi, Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral e Hélia Correia, dos investigadores Richard Zenith, Teresa Rita Lopes, Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari e do fotógrafo Daniel Blaufuks, entre outros.(notíciasonline)
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade as danças
Mas o melhor de tudo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…