6.15.2008

Para Além... Do Tempo...e Das Idades...

Para Além... Do Tempo

...e Das Idades...



No âmbito dos 120 anos do nascimento do escritor

"Poesia de Fernando Pessoa para todos"

A antologia "Poesia de Fernando Pessoa para todos", organizada por José António Gomes com ilustrações de António Modesto, visa "aproximar mais cedo os mais novos" do poeta da "Mensagem". Com a chancela da Porto Editora, esta antologia é editada no âmbito dos 120 anos do nascimento do escritor, reunindo cerca de 30 poemas seus.(Lusa)


Fernando Pessoa
Poeta dos heterónimos nasceu há 120 anos

"O próprio Pessoa escreveu alguns poemas às suas sobrinhas, um destinatário infantil, mas há outros poemas seus, simples e compreensíveis pelos mais novos, com uma estrutura lírico-dramático", explicou José António Gomes. O investigador salientou as ilustrações e o design de António Modesto, "marcados por um estilo que lembra aqui e ali as vanguardas históricas do princípio do século XX, o período de actividade de Pessoa". "Há referências a Amadeo de Souza-Cardoso e ao cubismo", acrescentou. A antologia inclui, entre outros, "Poema pial", "Ó sino da minha aldeia", "A fada das crianças" e "Liberdade", num total de 27 poemas, na sua maioria de autoria de Fernando Pessoa, mas incluindo dois heterónimos. De Ricardo Reis escolheu a ode "Para ser grande sê inteiro" e de Álvaro de Campos "Todas as cartas de amor são ridículas".
Segundo José António Gomes, professor na Escola Superior de Educação do Porto, "Fernando Pessoa é dos poetas mais conhecidos e lidos", mas pode-se ainda "aproximá-lo dos mais novos, logo na escola primária e no 2º ciclo". Ilustrador e o antologista estarão na próxima quinta-feira, 13 de Junho, dia do aniversário de Fernando Pessoa, na Feira do Livro de Lisboa, a cidade onde nasceu. O livro integra a colecção "Oficina dos Sonhos", um projecto da Porto Editora que visa "reunir clássicos da literatura infantil e juvenil, obras contemporâneas de grandes autores e ilustradores portugueses ou estrangeiros, e álbuns para os mais pequenos", segundo fonte editorial. Inúmeras iniciativas assinalam efeméride. Um ciclo de conferências, uma exposição, um concerto e uma peça de teatro são algumas das iniciativas com que a Casa Fernando Pessoa vai assinalar os 120 anos do nascimento do poeta, a 13 de Junho de 1888. O Terreiro do Paço acolhe o espectáculo "Hip Hop Pessoa", uma iniciativa da CFP, da Câmara Municipal de Lisboa e da editora discográfica Loop:Recordings que reúne escritos do poeta e alguns dos mais conhecidos nomes do movimento Hip Hop nacional, como Melo D, Maze e Fuse, dos Dealema, Raptor, Rocky Marsiano, Rodrigo Amado, Sagas, Dj Ride, T-One, D-Fine e Viriato Ventura, pai de Sam The Kid. A animação no Terreiro Paço começa às 18h00, com os Djs da Loop Rui Miguel Abreu, José Belo, D-Mars, e DJ Ride e com Nomen, um dos mais reputados artistas de graffiti portugueses, a pintar painéis alusivos à iconografia pessoana, e o concerto começará às 22h00. Em Setembro, será editado um CD de homenagem a Fernando Pessoa com a participação destes e de outros artistas - que estará parcialmente disponível para download gratuito no portal LX Jovem, da Câmara de Lisboa, financiadora do álbum - acompanhado de um DVD com entrevistas a todos os envolvidos no projecto e da gravação do concerto de 13 de Junho. Uma peça de teatro baseada no único texto escrito por Pessoa no feminino, "A Carta da Corcunda para o Serralheiro", será apresentada na Casa Fernando Pessoa em três noites consecutivas - 18, 19 e 20 de Junho, pelas 21h30, com entrada livre - com interpretação da actriz Ângela Pinto e encenação de Hélder Gamboa. Esse texto, assinado por Maria José, e uma resposta a ele da autoria de Inês Pedrosa, intitulada "A Carta do Serralheiro para a Corcunda", estão publicados num número especial da revista Egoísta dedicado ao poeta, que reúne contributos de escritores como Antonio Tabucchi, Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral e Hélia Correia, dos investigadores Richard Zenith, Teresa Rita Lopes, Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari e do fotógrafo Daniel Blaufuks, entre outros.(notíciasonline)



"Quanto mais eu sinta,
Quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for..."

>>>><<<<
...mas:

ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade as danças
Mas o melhor de tudo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
Fernando Pessoa

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