7.12.2008

Para Além ... De Prosa...

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Para Além ... De Prosa...
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...Homenagem a Jorge de Sena...



Saramago quer mais poesia estudada nas escolas
O escritor José Saramago defendeu na noite de quinta-feira, em Lisboa, que a poesia portuguesa seja mais estudada nas escolas, dando como exemplo o poeta Jorge de Sena como um dos autores que deveria figurar entre os de leitura obrigatória. (Lusa)


"Têm-me dito que são sobretudo os romances a surgir nas leituras obrigatórias nas escolas. É tempo de dar passo à poesia", apelou o Nobel da Literatura durante uma sessão de homenagem a Jorge de Sena realizada quinta-feira à noite no Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), promovida pela Fundação José Saramago, e que contou com a presença do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, e ainda diversos especialistas da obra de Jorge de Sena como Eduardo Lourenço, Vítor Aguiar e Silva e Jorge Fazenda Lourenço. Perante uma audiência que encheu totalmente o Salão Nobre do TNSC, Saramago justificou a escolha de Jorge de Sena para a sessão/debate intitulada "Um Regresso": "É um grande poeta, um grande escritor, uma grande cabeça e um grande coração", sublinhou, sobre o autor nascido em Lisboa, em 1919, e falecido nos Estados Unidos em 1978. Considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura portuguesa do século XX, exilou-se no Brasil em 1959 e foi viver para os Estados Unidos em 1965, onde leccionou literatura. São da sua autoria, entre uma vasta obra de poesia, ficção, teatro e ensaio, "Metamorfoses", "Arte de Música" e "Peregrinatio ad Loca Infecta". Estava prevista a leitura de uma mensagem da viúva, Mécia de Sena, mas Saramago explicou que tal não foi possível porque os incêndios que têm devastado Santa Bárbara (Califórnia), onde reside, obrigaram-na a abandonar a residência habitual, que esteve ameaçada pelo fogo. O Nobel da Literatura recordou a condição de exilado do escritor homenageado e lamentou que tenha sido "injustamente pouco divulgado" em Portugal: "Ele amava com desespero a sua pátria. Sentia como poucos o significado do desencontro entre um cidadão e a sua pátria." Saramago considerou ainda que Portugal "teve a sorte" de ver nascer uma personalidade como Jorge de Sena, "que remou contra a mediocridade e a apatia de que o país tantas vezes tem dado mostras. Ele tinha uma grande qualidade: era incómodo". Sobre o título da sessão - "Um Regresso" - fez questão de sublinhar que o poeta, "embora ausente, nunca deixou de estar presente". "Deixou-nos a sua obra. Resta-nos a nós captar, perceber e integrar" o seu legado, observou, sugerindo, por outro lado, que alguma editora poderia reuni-lo e publicá-lo, porque, no seu entender, "a dispersão dos livros por várias editoras é prejudicial." Na sua intervenção, António Mega Ferreira destacou que Jorge de Sena "foi acima de tudo um agitador das ideias feitas do século XX" e terminou com um apelo: "Leiam-no e amem-no!" O ensaísta Eduardo Lourenço, que foi amigo de Jorge de Sena, recordou-o como um autor "com um conhecimento raro da poesia portuguesa" e "alguém que retomou a herança da poesia _ nomeadamente Camões e Fernando Pessoa - e a reinterpretou". "Ele foi, por outro lado, demasiado sensível à violência do mundo. Qualquer dos seus poemas exprime esse combate", acrescentou o escritor cuja correspondência com Jorge de Sena se encontra publicada. Muito aplaudidas pelo público _ onde se encontravam editores, amigos e figuras públicas da área da cultura _ as intervenções dos oradores foram presenteadas com chaves oferecidas por José Saramago "para abrir todas as portas à obra de Jorge de Sena". O Nobel da Literatura anunciou que a Fundação com o seu nome irá promover futuramente sessões semelhantes sobre os escritores José Rodrigues Miguéis, Raúl Brandão e Almada Negreiros.
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Génesis


De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
Pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
Para sentir o tempo andar comigo;
Nem de viver, que é liberdade errada,
E foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça ..._Ai quantos que eram novos
Em vâo a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusâo dos povos!

Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

Jorge de Sena

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