4.02.2009

Para Além... De Um Universo "Concluído"...



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Para Aquém De...
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Um Universo "Concluído"
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...2009: Ano Internacional
Da Astronomia...


"O puzzle que é o Universo está longe de concluído"
A partir de hoje e até domingo, o céu vai estar ao alcance de todos, nas "100 Horas de Astronomia". O coordenador nacional do projecto, Ricardo Cardoso Reis, deu uma entrevista à SIC Online. Explicou como podemos sentir-nos parte do Universo, falou da Astronomia em Portugal e das expectativas que o futuro traz à descoberta dos astros.
(Catarina van der Kellen_Jornalista
Sic/online)

2009: Ano Internacional da Astronomia
À descoberta do Universo

(Entrevista a Ricardo Reis)
As "100 horas de Astronomia" pretendem ser o maior evento de divulgação de Astronomia da História. De que forma esta iniciativa vai aproximar as pessoas da ciência que estuda o Universo?

Um pouco por todo o mundo teremos iniciativas e pessoas que procuram levar a Astronomia ao Público. Desde Astrónomos amadores que disponibilizam os seus telescópios, até aos grandes Observatórios mundiais, que nos mostrarão em directo o que fazem os astrónomos profissionais. Com esta “Volta ao mundo em 80 telescópios”, procuraremos destruir aquela ideia do astrónomo, da bata e barbas brancas, com o olho enfiado num poeirento e arcaico telescópio.

O que são as "Astro-festas”?

Como o próprio nome indica, são festa de Astronomia. Normalmente são organizadas por astrónomos amadores, cheias de telescópios para que toda a gente possa observar um bocadinho mais do nosso Universo. Portugal contribui com mais de 50 eventos, de Trás-os-Montes ao Algarve.

Considera os portugueses um povo entusiasta neste tipo de iniciativa?

Ontem quando consultei a lista de actividades mundiais, Portugal estava no Top 3 da Europa, e no Top 10 do mundo. Só estamos atrás de países onde a Astronomia amadora tem uma grande expressão, como os EUA, ou o Brasil. Portanto, acho que entusiasmo é algo que não nos falta.

Qual é, na sua opinião, o grau de empenho de Portugal na investigação astronómica?

Nos últimos anos a investigação em Astronomia em Portugal tem vindo a crescer a olhos vistos. Há duas décadas, quase não havia astrónomos em Portugal, enquanto que hoje o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), por exemplo, é um centro de excelência, com participação em quase todos grandes projectos mundiais, desde o Observatório Europeu do Sul (ESO), passando pelas mais recentes missões da Agência Espacial Europeia (ESA), como o Kepler ou o Planck.

A nível geral, considera que vivemos cada vez mais isolados do Universo ou, pelo contrário, somos cientificamente cultos no que respeita à Astronomia?

Eu gostaria de pensar que estamos cada vez mais cientificamente cultos, senão não estou a desenvolver bem o meu trabalho! No CAUP trabalho na divulgação de astronomia, e às vezes fico surpreendido com as perguntas inteligentíssimas que miúdos da primária me colocam. Para isso terá contribuído o facto de a Astronomia ser uma componente de peso nos currículos de ciência do ensino básico. Do ponto de vista ambiental, o planeta vive uma fase muito sensível.

De que forma, por exemplo, a poluição luminosa afecta a saúde dos astros?

Estas luzes das cidades que iluminam o céu afecta-nos mais a nós, que estamos a perder algo que deveria ser considerado Património da Humanidade – o céu à noite. Nas grandes cidade portuguesas, o número de estrelas que conseguimos ver são poucas centenas, em vez dos milhares que vemos em locais sem poluição luminosa. Um dos projectos da Ano Internacional da Astronomia é exactamente uma “Noite da Astronomia”, a 18 de Julho, onde vários municípios portugueses irão desligar as luzes, para podermos ver o céu em todo o seu esplendor.

Bento XVI apoiou a iniciativa da Unesco em fazer deste ano o Ano Internacional da Astronomia. Como comenta esta acção do Papa, 400 anos depois da Igreja ter condenado Galileu?

Penso que será quase uma continuação das desculpas públicas apresentadas pelo anterior Papa, João Paulo II, à perseguição da Igreja a Galileu Galilei. É que a base deste ano internacional da Astronomia são as comemorações dos 400 anos das observações de Galileu.

Um astrónomo brasileiro, Fernando Vieira, disse que a astronomia é quase um sacerdócio. Concorda?

Não. De todo. Como qualquer ciência, a base da astronomia é a dúvida, a procura constante de respostas. E numa ciência como a astronomia, se há coisas que nós sabemos, é que algo é verdade apenas hoje. Amanhã podemos fazer uma nova descoberta, que contradiz o que sempre pensámos como certo.

Na sua opinião, é possível uma aliança entre ciência e religião?

Acho que não é impossível co-existirem pacificamente, mas uma aliança parece-me difícil, pela base de ambas. A religião, por definição, é baseada em crença sem provas, enquanto que a ciência tem por base a constante procura de provas.

Partilha a convicção de Catherine Cesarsky, directora de pesquisa no Comissariado de Energia Atómica, de que vivemos a idade de ouro da astronomia?

Sim. Neste momento temos o privilégio de dispor dos melhores e mais avançados meios, que nos permitem ver cada vez mais e melhor o nosso Universo. Ainda que o puzzle que é o Universo esteja longe de estar concluído, temos cada vez mais a ideia de como será a imagem final.

Vislumbra grandes novas descobertas astronómicas num futuro próximo?

Sendo uma ciência em constante evolução, acho que novas descobertas são inevitáveis. Por exemplo, estamos todos ansiosos pelos primeiros resultados da recém-lançada sonda Kelper, mas também da sonda Planck (que será lançada este mês), que irá observar o fóssil do calor dos primórdios do Universo, quando este tinha apenas 300.000 anos de idade. "


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